quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Buda e a Autonomia de Pensamento


A compreensão e a empatia, que dependem do uso correto da inteligência e da sensibilidade, parecem artigo raro em 2017. Vamos começar a leitura de uma nobre linhagem de pensadores orientais e ocidentais. Apesar de épocas e locais diferentes, todos defendem em comum a necessidade urgente de esclarecimento, de autonomia de pensamento e vontade. Seja na meditação de Buda ou nos estudos das neurociências de hoje, tudo converge para a importância do altruísmo, do sentimento positivo, do amor e da paz.

Vamos começar com Sidarta Gautama (563 a.C. - 483 a. C.), O Buda, que deixou o seguinte ensinamento:

"Não acrediteis numa coisa apenas por ouvir dizer. Não acrediteis na fé das tradições só porque foram transmitidas por longas gerações. Não acrediteis numa coisa só porque é dita e repetida por muita gente. Não acrediteis numa coisa só pelo testemunho de um sábio antigo. Não acrediteis numa coisa só porque as probabilidades a favorecem ou porque um longo hábito vos leva a te-la por verdadeira. Não acrediteis no que imaginastes, pensando que um ser superior a revelou. Não acrediteis em coisa alguma apenas pela autoridade dos mais velhos ou dos vossos instrutores. Mas, aquilo que vós mesmos experimentastes, provastes e reconhecestes verdadeiro, aquilo que corresponde ao vosso bem e ao bem dos outros - isso deveis aceitar, e por isso moldar a vossa conduta."

Buda  (Kalama-Sutta)

Numa época em que islâmicos matam em nome de Deus, gritando Allahu akbar (Deus é grande), em que cristãos expulsam homossexuais de um prédio dizendo que eles contrariam a lei de Deus, ou ainda cristãos fundamentalistas de diversas denominações combatem o evolucionismo biológico considerando-o "artimanha do diabo", o ensinamento de Buda é um convite à inteligência, autonomia de pensamento e cautela crítica.

O problema não é a religião, mas o dogmatismo
.
O erro tão desastroso não é a crença, mas a crendice.

O que me impressiona não é se há ou se não há alguma divindade (ou mais que uma) no Cosmos.

O que me entristece - devo confessar o verdadeiro sentimento que me assola - é a legião de imbecis que se julgam porta-vozes de Deus. E são capazes de mutilar, matar, discriminar e apedrejar em nome de uma suposta divindade.

Sempre que releio essas palavras de Buda, percebo o quanto ainda estamos longe da verdadeira humanidade.

Você tem fé ou pretende ter fé?  Não acredite em qualquer coisa e muito menos em qualquer pessoa.

Esse é um paradoxo típico das religiões: para ter fé é preciso muitas vezes não crer.


Próximo texto: Epicuro e a felicidade.

Prof. Reinério Simões (UERJ)

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