A compreensão e a empatia, que dependem do uso correto da inteligência e da sensibilidade, parecem artigo raro em 2017. Vamos começar a leitura de uma nobre linhagem de pensadores orientais e ocidentais. Apesar de épocas e locais diferentes, todos defendem em comum a necessidade urgente de esclarecimento, de autonomia de pensamento e vontade. Seja na meditação de Buda ou nos estudos das neurociências de hoje, tudo converge para a importância do altruísmo, do sentimento positivo, do amor e da paz.
Vamos começar com Sidarta Gautama
(563 a.C. - 483 a. C.), O Buda, que deixou o seguinte ensinamento:
"Não acrediteis numa coisa apenas por ouvir dizer. Não acrediteis
na fé das tradições só porque foram transmitidas por longas gerações. Não
acrediteis numa coisa só porque é dita e repetida por muita gente. Não
acrediteis numa coisa só pelo testemunho de um sábio antigo. Não acrediteis
numa coisa só porque as probabilidades a favorecem ou porque um longo hábito
vos leva a te-la por verdadeira. Não acrediteis no que imaginastes, pensando
que um ser superior a revelou. Não acrediteis em coisa alguma apenas pela
autoridade dos mais velhos ou dos vossos instrutores. Mas, aquilo que vós
mesmos experimentastes, provastes e reconhecestes verdadeiro, aquilo que
corresponde ao vosso bem e ao bem dos outros - isso deveis aceitar, e por isso
moldar a vossa conduta."
Buda (Kalama-Sutta)
Numa época em que islâmicos matam
em nome de Deus, gritando Allahu akbar
(Deus é grande), em que cristãos expulsam homossexuais de um prédio dizendo que
eles contrariam a lei de Deus, ou ainda cristãos fundamentalistas de diversas
denominações combatem o evolucionismo biológico considerando-o "artimanha
do diabo", o ensinamento de Buda é um convite à inteligência, autonomia de
pensamento e cautela crítica.
O problema não é a religião, mas
o dogmatismo
.
O erro tão desastroso não é a
crença, mas a crendice.
O que me impressiona não é se há
ou se não há alguma divindade (ou mais que uma) no Cosmos.
O que me entristece - devo
confessar o verdadeiro sentimento que me assola - é a legião de imbecis que se
julgam porta-vozes de Deus. E são capazes de mutilar, matar, discriminar e
apedrejar em nome de uma suposta divindade.
Sempre que releio essas palavras
de Buda, percebo o quanto ainda estamos longe da verdadeira humanidade.
Você tem fé ou pretende ter
fé? Não acredite em qualquer coisa e
muito menos em qualquer pessoa.
Esse é um paradoxo típico das religiões: para
ter fé é preciso muitas vezes não crer.
Próximo texto: Epicuro e a
felicidade.
Prof. Reinério Simões (UERJ)
Prof. Reinério Simões (UERJ)
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